sexta-feira, 30 de maio de 2008

Commédia dell'arte





A Commedia dell'arte surge na Itália, em meados do séc. XVI, atinge seu apogeu no sécuo seguinte e se mantém extremamente popular até meados do séc. XVIII, quando entra em declínio, apesar de continuar viva nas praças, ruas e palcos de, praticamente todo o ocidente até os dias de hoje. É um gênero teatral que durante quse três séculos exerceu fascinação por quase toda a Europa e influenciou atores, dramaturgos e encenadores como: Shakespeare, Molière, Jean–Louis Barrault, Meyerhold, Jacques Lecoq, Dario Fo, Strehler, e tantos outros.
Tem suas origens ainda na Roma antiga, por intermédio da Fábula Atelana, uma espécie de farsa vinda da cidade de Atela, popular em 240a.C., cuja representação consistia no desenvolvimento improvisado de intrigas pré-determinadas. Intrigas que aconteciam mediante quatro tipos-fixos fortemente caracterizados por máscaras, no comportamento e no aspecto, estilizando tipos populares: o Pappus – um velho estúpido, avarento e libidinoso; o Maccus – gozador, tolo, brigão; o Bucco – com uma boca enorme provavelmente por ser comilão, ou ainda tagarela; e, o Dossennus, um corcunda malicioso.
Há indícios de que o Pappus seria o Pantaleone, na Commèdia dell'arte, ou Maccus o Arlecchino, embora a semelhança esteja mais em Pulcinella? Ou ainda poderia ser Brighella inspirado em Bucco? Enfim, são máscaras aproximativas numa distância de quase dois milênos entre elas.
Quem teve grande importância para a Commedia dell'arte foi o autor e ator padovano, Ângelo Beolco (1502–1542), conhecido como Ruzante - personagem que representava e que se caracterizava por ser um camponês guloso, grosseiro, preguiçoso, ingênuo e zombador, estando no centro de quase todos os contextos cômicos. Suas comédias colocavam o ator a recitar em dialeto padovano. Elas têm importância na história do teatro italiano, pois representam os primeiros documentos literários em que a repetição dos mesmos caracteres em personagens de mesmo nome anima uma série de tipos-fixos, que podem ser considerados os precurssores das máscaras da Commedia dell'arte.
A Commedia dell'arte era representada por atores profissionais, e teve várias denominações como Commedia all'improviso – comédia fundamentada sobre o improviso; Commedia a soggeto – comédia desenvolvida através de um canovaccio (roteiro) e ainda Commedia delle Maschere – comédia de máscaras.
Em 1545, em Pádua, é encontrado o primeiro registro de formação de uma trupe de Commedia dell'arte, onde oito atores se comprometem a atuarem juntos por um determinado período – até a quaresma de 1546 – fixando direitos e deveres entre eles, caracterizando um contrato profissional. Desse modo, pela primeira vez na Europa, com a Commedia dell'arte, uma companhia teatral era caracterizada por constituir um grupo de atores que viviam exclusivamente de sua arte. Era estabelecido assim uma organização nova, com atores especializados e bem treinados para exercer o seu ofício.
Este gênero teatral se caracterizava por uma dramaturgia que nascia da representação do ator. Os atores, além de terem uma intensa preparação técnica (vocal, corporal, musical...), representavam, geralmente, o mesmo personagem por toda sua vida, criando assim uma codificação precisa do tipo representado. Estes personagens-fixos, representavam seguindo a estrutura de um roteiro - canovaccio, que orientava a sequência das ações e a partir do qual "improvisavam". Os canovacci não variavam muito em termos de intriga e de relação entre os personagens. Cada personagem, por sua vez, possuía um repertório próprio que se recombinava conforme a situação. O chamado improviso, não era portanto, uma invenção do momento, mas a liberdade que somente é possível de ser adquirida pelo ator, através de um treinamento permanente. Dentro da estrutura dos canovacci também existia a possibilidade de intervenções autonômas, denominadas de lazzi, que os atores introduziam para comentar ou sublinhar comicamente as ações principais, interligar as cenas e ocupar os espaços vázios. Com o uso, esses lazzi eram repetidos e fixados e passavam a fazer parte do repertório dos personagens.
As trupes da Commedia dell'arte eram formadas, geralmente, por oito ou doze atores. Os personagens representados eram divididos em três categorias: os enamorados, os velhos e os criados chamados zannis, que provavelmente deriva de Giovanni, nome típico do ambiente camponês italiano.
O ATOR
O ator na Commedia dell'arte, tinha um papel fundamental cabendo-lhe não só a interpretação do texto mas também a continua improvisação e inovação do mesmo. Malabarismo canto e outro feitos eram exigidos continuamente ao ator.O uso das mascaras (exclusivamente para os homens) caraterizava os personagens geralmente de origem popular: os zanni, entre os mais famosos vale a pena citar Arlequim, Pantaleão e Briguela.A enorme fragmentação e a quantidade de dialetos existentes na Itália do século XVI obrigavam o ator a um forte uso da mímica que tornou-se um dos mais importantes fatores de atuação no espetáculo. O ator na commedia dell’arte precisava ter "uma concepção plástica do teatro" exigida em todas as formas de representação e a criação não apenas de pensamentos como de sentimentos através do gesto mímico, da dança, da acrobacia, consoante as necessidades, assim como o conhecimento de uma verdadeira gramática plástica, além desses dotes do espírito que facilitam qualquer improvisação falada e que comandam o espetáculo. A enorme responsabilidade que tinha o ator em desenvolver o seu papel, com o passar do tempo, portou à uma especialização do mesmo, limitando-o a desenvolver uma só personagem e a mantê-la até a morte. A continua busca de uma linguagem puramente teatral levou o gênero a um distanciamento cada vez maior da realidade.A commedia foi importante sobretudo como reação do ator a uma era de acentuado artificialismo literário, para demonstrar que, além do texto dramático, outros fatores são significativos no teatro.
O ESPETÁCULO
O espetáculo era construído com rigor, sob a orientação de um concertatore, equivalente do diretor do teatro moderno, e de um certo modo seu inspirador. Aquele, por sua vez, tinha à disposição séries numerosas de scenari, minudendes roteiros de espetáculos, conservados presentemente em montante superior a oitocentos; muitos ainda existem nos arquivos italianos e estrangeiros ser terem sido arrolados.
O TEXTO
O que mais atrai o olhar contemporâneo nas leituras dos canovacci da commedia dell’arte, é a inconsistência deles no que se refere ao conteúdo.Sendo a comédia um espetáculo ligado fortemente à outros valores como as máscaras, a espetacularidade da recitação, habilidade dos atores, a presença da mulheres na cena, etc..., não tinha necessidade de compor dramaturgias exemplares, novidades de conteúdos ou estilos.O canovaccio devia obedecer a requisitos de outro tipo, todos funcionais ao espetáculo: clareza, partes equivalentes para todos os atores envolvidos, ser engraçado, possibilidade de inserir lazzi, danças e canções, disponibilidade a ser modificado.A técnica de improviso que a commedia adotou não prescindiu de fórmulas que facilitassem ao ator o seu trabalho. Diálogos inteiros existiam, muitos deles impressos, para serem usados nos lugares convenientes de cada comédia. Tais eram as prime uscite (primeiras saídas), os concetti (conceitos), saluti (as saudações), e as maledizioni (as maldições).Na sua fase áurea, o espetáculo da commedia dell’arte tinha ordinariamente três atos, precedidos de um prólogo e ligados entre si por entreatos de dança, canto ou farsa chamados lazzi ou lacci (laços).A intriga amorosa, que explorou sem limites, já não era linear e única, como na comédia humanista, mas múltipla e paralela ou em cadeia: A ama B, B ama C, C ama D, que por sua vez ama A.
As peças giravam em torno de encontros e desencontros amorosos, com um inesperado final feliz. As personagens representadas inseriam-se em três categorias: a dos enamorados, a dos velhos e a dos criados (zannis). Estes últimos constituiam os tipos mais variados e populares. Havia o zanni esperto, que movimentava as acções e a intriga, e o zanni rude e simplório, que animava a acção com as suas brincadeiras atrapalhadas. O mais popular é, sem dúvida, Arlequim, o empregado trapalhão, ágil e malandro, capaz de colocar o patrão ou a si em situações confusas, que desencadeavam a comicidade. No quadro de personagens, merecem ainda destaque Briguela, um empregado correcto e fiel, mas cínico e astuto, e rival de Arlequim, Pantaleone ou Pantaleão, um velho fidalgo, avarento e eternamente enganado. Papel relevante era ainda o do Capitano (capitão), um covarde que contava as suas proezas de amor e em batalhas, mas que acabava sempre por ser desmentido. Com ele procurava-se satirizar os soldados espanhóis.
As representações tinham lugar em palcos temporários, na maior parte das vezes nas ruas e praças das cidades e, ocasionalmente, na corte. A precariedade dos meios de transporte e vias e as conseqüentes dificuldades de locomoção, determinavam a simplicidade e minimalismo dos adereços e cenários. Muitas vezes, estes últimos resumiam-se a uma enorme tela pintada com a perspectiva de uma rua, de uma casa ou de um palácio. O ator surge assim como o elemento mais importante neste tipo de peças. Sem grandes recursos materiais, eles tornaram-se grandes intérpretes, levando a teatralidade ao seu expoente mais elevado.
OS PERSONAGENS
Embora bastante influente e de extrema importância, nenhum texto de Commedia dell’arte resistiu ao passar do tempo. No entanto, não restam dúvidas de que esta arte ultrapassou as barreiras literárias, pelo que as personagens nela criadas ainda povoam o nosso imaginário. Os artistas da Commedia dell’arte introduziram inovações de extrema importância que se incorporaram a todo o teatro posterior. Eles abriram o espaço à participação de mulheres no elenco e criaram uma linguagem que se sobrepôs ao poder da palavra. As representações teatrais eram levadas a cabo por atores profissionais, feitas nas ruas e nas praças. Os atores da Commédia dellarte fundaram um novo estilo e uma nova linguagem; caracterizadas pela utilização do cômico. Ridicularizando militares, prelados, banqueiros, negociantes, nobres e plebeus, o seu objetivo era provocar o riso através da música, da dança, da acrobacia e de diálogos repletos de ironia e humor.
As encenações da Commedia dell’arte baseavam-se na criação coletiva. Os atores apoiavam-se num esquema orientador e improvisavam os diálogos e a ação, deixando-se levar ao sabor da inspiração do momento, criando o tão desejado efeito humorístico. Eventualmente, as soluções para determinadas situações foram sendo interiorizadas e memorizadas, pelo que os atores se limitavam a acrescentar pormenores que o acaso suscitava, ornamentados com jogos acrobáticos.
O elevado número de dialetos que se falava na Itália pós-renascentista, determinaram a importância que a mímica assumia neste tipo de comédia. O seu uso exagerado, não só provocava o riso, mas sustentava a comunicação em si. Comumente uma companhia não traduzia o dialeto em que a peça era representada, não importando por onde passasse. Mesmo no caso das companhias locais, raras eram às vezes, em que os diálogos eram entendidos na sua totalidade. Daí que atenção se centrasse na mímica e nas acrobacias, a única forma de se ultrapassar a barreira da ausência de unidade lingüística.
As companhias, formadas por dez ou doze atores, apresentavam personagens tipificados. Cada ator se especializava numa personagem fixa, cujas características físicas e habilidades cômicas eram exploradas até ao limite. Variavam apenas as situações em que as personagens se encontravam.
O comportamento destas personagens enquadrava-se num padrão: o amoroso, o velho ingênuo, o soldado, o fanfarrão, o pedante, o criado astuto. Personagens que viraram Arlequim, Scaramouche, Briguela, Isabela, Colombina, Polichinelo ou Pulchinela, Capitão Matamoros e Pantaleão são personagens que esta arte celebrizou e eternizou. Importante na caracterização de cada personagem era o vestuário, e em especial as máscaras. As máscaras utilizadas deixavam a parte inferior do rosto descoberto, permitindo uma dicção perfeita e uma respiração fácil, ao mesmo tempo em que proporcionavam o reconhecimento imediato da personagem pelo público.
Os enamorados eram geralmente representados por homens e mulheres belos e cultos, falavam com elegância num toscano literário, eventualmente poderiam ser personagens ingênuos e não muito brilhantes. Vestiam-se com roupa da moda e não utilizavam máscaras. A enamorada, segundo o esquema da trama, poderia ser cortejada por dois pretendentes, um jovem e um velho.
Entre os personagens que utilizavam máscaras encontramos os velhos e os criados. Os velhos são: Pantalone, um rico mercador veneziano, geralmente avarento e conservador. Falava em dialeto veneziano, era apaixonado por provérbios e, apesar de sua idade, cortejava uma das donzelas da comédia. Sua máscara era negra e se caracterizava por seu nariz adunco, o que remetia aos hebreus, e sua barbicha pontuda. Pantalone, com sua figura esguia, contrastava e complementava no jogo cênico com a figura redonda do outro velho, o Dottore, que podia aparecer como amigo ou rival de Pantalone. Era pedante, normalmente advogado ou médico, falava em dialeto bolonhês intercalado por palavras ou frases em latim. Gostava de ostentar a sua falsa erudição, mas era enganado pelos outros por ser extremamente ingênuo. Era um marido ciumento e geralmente cornudo. Sua máscara era um acento que só marca a testa e o nariz.
Zannis
Os tipos mais variados e populares da Commedia dell'arte eram os zannis. Dividiam-se em duas categorias: o primeiro zanni, esperto, que com suas intrigas movimentava para frente as ações; e o segundo zanni, rude e simplório, que com suas atrapalhadas brincadeiras interrompia as ações e desencadeava a comicidade. Entre os zannis, Arlecchino, proveniente de Bergamo, era a máscara mais popular. Inicialmente segundo zanni, transformou-se pouco a pouco em primeiro, encarnava uma mistura de esperteza com ingenuidade, estando sempre no centro das intrigas. Usava inicialmente uma roupa branca e um cinturão, onde carregava um bastonete de madeira, calças brancas, chinelos de couro e gorro branco. Supõe-se que, com o tempo, essa roupa foi ganhando remendos coloridos e dispersos, de onde provém sua atual roupa de losangos. Muitos estudiosos dizem que a origem do nome Arlecchino está na palavra Hellequim – o chefe dos diabos que comandava um bando de espectros e demônios. Hellequim teria se transformado em Herlequim e posteriormante, em Harlequim.
O companheiro mais frequente de Arlecchino era Briguela, um criado libidinoso e cinicamente astuto, também proveniente de Bergamo. Outro zanni que já existia do carnaval de Nápoles e passou a fazer parte da Commedia dell'arte foi Pulcinella. Sua corcunda e ventre são proeminentes, sua máscara traz um nariz em forma de bico e sua voz era estridente, lembrando uma ave.
As criadas, não usavam máscaras. Elas geralmente ficavam a serviço da enamorada. Normalmente eram jovens, de espírito rude e sempre prontas a criar intrigas. Outras vezes eram mais velhas e podiam ser donas de uma taberna, a mulher de um criado ou objeto de interesse de um velho.
Entre outros personagens importantes encontramos o Capitano, que descende do Miles Gloriosus, de Plauto. Era um covarde que contava vantagens de suas proezas em batalhas e no amor, para depois ser completamente desmentido. Mostrava-se um valente, embora fosse um grande covarde. Fazia uma sátira aos soldados espanhóis. A espada e a capa eram acessórios fundamentais de seu figurino. A este personagem davam vários nomes: Spavento da Vall'Inferno, Coccadrillo, Fracassa, Rinoceronte e Matamoros. As suas derrotas constituiam um dos momentos marcantes da comédia.
O uso da máscara na Commedia dell'arte foi extremamente importante, tanto que ficou conhecida como Commedia delle Maschere. Os atores para utilizarem a máscara deveriam dominar sua técnica. Elas se caraterizam por serem meias – máscaras, deixando a parte inferior do rosto descoberta, permitindo uma perfeita fonação e uma cômoda respiração, adequada às necessidades do jogo cênico realizado pelos atores. A Máscara proporcionava o imediato reconhecimento do personagem pelo público. Os sentimentos, o estado de espírito desses personagens necessariamente engajavam todo o corpo do ator, propondo um jogo dinâmico, direto, essencialmente teatral. Pantalone por exemplo, tem a postura fechada. Suas pernas são juntas, os pés ligeiramente abertos e os joelhos flexionados por causa da idade. Sua cabeça e seu quadril são para frente, deixando claro que seu apetite sexual parte da cabeça. Seu abdomem é para dentro, revelando sua possessividade, e ainda que o instinto alimentar não é seu problema. A máscara neste caso, seja por sua cor negra e por não propor uma caracterização tão rígida na sua expressão, possibilita que o personagem transite de um sentimento a outro com maior liberdade. São as circunstâncias nas quais o personagem se encontra que definem o tipo representado. É possível que por alguns instantes Pantalone fique jovem e esqueça sua avareza ao ver uma bela donzela, e que logo em seguida, ao lembrar da presença do seu cobrador, sinta-se muito velho e doente quase para morrer.
As máscaras da Commedia dell'arte não propõem uma caracterização definitiva dos personagens , elas servem mais para delimitar do que para definir. Assim como disse Ferdinando Taviani em seu texto "Sulla sopravvalutazione della maschera" : "o eu do Arlecchino não é uma entidade permanente mas, a sequência de tantos eus parciais adequados, cada um, a uma determinada situação." O espírito que anima o personagem, que o faz viver, vem do contexto que o circunda, das ações em que está imerso. A máscara na Commedia dell'arte mais do que acrescentar, tira do ator os signos de sua interioridade, transforma-o numa figura toda superfície, cuja psique, não está no seu interior, mas no seu exterior. Desta forma, o personagem só existe enquanto desenhado em seus contornos.

sábado, 24 de maio de 2008

Teatro na Idade Média

Teatro na Idade Média:

1- O drama litúrgico dos séculos XI e XIII d C.
Dentro da Igreja – composição de coro;

2- Os jogos (século XIII) eram semi-litúrgicos e aconteciam nos Adros (fora da Igreja). Pequenas composições que tinham sempre uma moral da história: Jogo de São Nicolau, Jogo de Adão;

3- Os Milagres (século XIII-XIV). Assuntos misturam Escrituras com lendas populares, sempre compostas por histórias fantásticas;

4- Os Mistérios (século XV e XVI)
- Adros / espaços da cidade
- Estátuas em pedra [grandes catedrais]
- Vitrais
- Encenações.
Os espetáculos aconteciam ao longo de 25/30 dias. Contava a história de Cristo à exaustão. E, ou, se encenava todos os detalhes da vida dos Santos.
Quando o teatro litúrgico sai da Igreja, o teatro profano de rua começa a “contaminar” os dramas litúrgicos. Aos poucos, a “leitura teatral das obras cristãs começa a se transformar.

A IGREJA VAI CEDENDO A VONTADE POPULAR.
O teatro é uma linguagem cultural, visa os anseios da sociedade medieval.

Bufão: Clown - manifestações populares que surgem na Idade Média. O Circo e o teatro popular [andarilhos, mambembes]. O circo se cobre numa lona, se estrutura: o mágico, o domador de animais, o saltimbanco, apresentações bizarras [deformações físicas, etc.]

Textos: - O Jogo de São Nicolau,
Jean Bodel (1º dramaturgo medieval);

- A farsa do mestre Pathelin.
Autor desconhecido.

Há dois meios de representação:
Ø O imediato
Ø E o oculto [subjetivo]

O que se apresenta e o que se representa.
O profissional ganha cada vez mais espaço, em relação ao sacro
O ator mambembe e todas as possibilidades transgressoras se completaram na hora do circo.

O que sobrou da comédia antiga e nova é muito pouco para a provável quantidade de produção da época
Comédia Antiga: Aristófanes:
Comédia Média: As duas últimas peças de Aristófanes;
Comédia Nova: Menandro;
Comédia Latina: Plauto e Terêncio.

A parábase é o elemento épico por excelência

Dupla enunciação: quando dois atores estão representando a figura do narrador.
Enunciado : pode ter sido escrito em qualquer época. Coisas que o autor do enunciado preparou para ser dito ao público.
Enunciação : Ato de dizer o enunciado. O ato de tornar o enunciado atual.

Gêneros literários - Aristóteles
Dramático: ação (pura é aquela protegida pela quarta parede);
Narrativo: narração:
Épico: narração + uma lição ou comentário/dramático.

Unidades – Aristóteles
Ação, Tempo e Lugar.



TEATRO NA IDADE MÉDIA

A Europa medieval do século V ao século X foi estéril no que se refere a uma dramaturgia significativa. Enquanto a Europa estava fragmentada em pequenas comunidades nas quais os homens levavam existências incertas, os teatros romanos foram abandonados a decadência e, aparentemente, a igreja conseguira suplantar por completo o templo de Dioniso.
Porém, embora isso fosse verdade em relação ao texto dramático, mesmo os primórdios da Idade Média viveu às voltas com atividades teatrais e semi-teatrais. Além das companhias itinerantes de mimos e acrobatas que haviam sobrevivido a queda do império romano, no campo havia os semi-convertidos e os pagãos que executavam magias agrícolas tratando da morte e da ressurreição da vegetação.
Incapaz de destruir estes vestígios de paganismo, a Igreja os associou aos festivais do Natal e da Páscoa, das danças e das peças de São Jorge, que sobreviveram até nos nossos dias. Na verdade São Jorge e seu dragão, Papai Noel (São Nicolau) e outros, eram personagens demasiado próximos da fantasia infantil e do pensamento mágico, para que pudessem ser facilmente esquecidos.
Os poetas incorporam elementos dramáticos em seus recitativos. Os Menestréis declamam poemas com pantomima adequada, e surgem outros romances dramatizados como Aucassino e Nicoleta, várias baladas primitivas estão carregadas de dramas e são dramáticas na sua estrutura, posto que narram a história através do diálogo e observam a progressão dramática. Baladas como Hobin Hood, chegam a formar pequenas peças nas quais o romântico bandoleiro desafia os normandos conquistadores da Inglaterra. As justas, As execuções públicas, as procissões civis e religiosas, os titereiros (bonequeiros), os jograis e os acrobatas, contribuem com a cor e a excitação coletiva do teatro, sem cristianizá-las e, sem torná-las peças dramatúrgicas.

Entretanto é a Igreja que vai fornecer a maior porção de fermento ao drama nascente. De início, os clérigos desprezavam o teatro popular e se satisfizeram com os pequenos esforços dos monastérios, onde o estudo clássico não fora totalmente destruído. Esses clérigos tinham familiaridade com comédias refinadas, segundo os modelos das comédias de Terêncio e chegavam a representá-las dentro dos mosteiros.
O ritual da Igreja girava em torno da morte e ressurreição de Jesus. Todo credo e a literatura da cristandade compunham um só grande drama: A glorificação da fé, a chegada do senhor, a glória dos santos e o último e eterno dia do julgamento.
Porém o drama cristão surgiu, inevitavelmente, como resposta a um problema prático: como levar aquela religião a um povo iletrado, incapaz de entender o que estava escrito e o que era dito na missa?
Na impossibilidade de traduzir para uma linguagem mais acessível os escritos sagrados, os sacerdotes começaram a compor quadros vivos dentro das igrejas, que descreviam as passagens mais significativas das palavras bíblicas. Aos poucos se acrescentavam pantomimas simbólicas e a seguir foram criados espaços fixos dentro da própria igreja para a representação dessas passagens. A igreja passou a ter uma área para o coro e os espetáculos se tornaram cada vez mais elaborados. As representações começaram a ganhar diálogos salmodiados precedidos e seguidos por grandes hinos latinos.
Por volta do século IX, o coro já se dividia em dois grupos, os anjos de asas brancas, mantendo a guarda, no sepulcro de cristo, de um lado e, as mulheres, que chegavam à busca do corpo de Cristo, do outro. Os anjos as informavam que Ele não estava lá, mas que ascendera ao céu e, lhes ordenavam anunciar ao mundo que Ele ascendeu do seu sepulcro. As novas eram saldadas com alegria e toda congregação saudava e eclodia com o glorioso Te Deum.
Em breve estavam sendo apresentadas peças curtas, em latim, escritas por sacerdotes, e apresentadas na mesma área do coro, a principio, passando depois, para a própria nave da igreja, já com música especialmente composta para o diálogo. Por volta do século XIII, à evolução do drama estava completa e mesmo a comédia começou a penetrar no teatro eclesiástico; na peça da paixão de Siena, o momento em que Maria Madalena compra cosméticos a um mercador, pode ser considerada uma clássica cena de comédia. As pequenas peças de páscoa evoluíram até se tornarem peças litúrgicas, conhecidas como milagres. Esses milagres resumiam-se basicamente aos episódios da morte e ressurreição de cristo.
As peças sobre santos começaram a ser escritas em conexão com os dias dos santos. O Corpus Christi se tornou o principal ensejo de apresentação do milagre ou dos assim chamados mistérios, bem como das peças sobre a vida dos santos. A conversão de São Paulo, Santa Maria Madalena, São Jorge e São Nicolau são peças, que permanecem dentro dos cânones bíblicos e, que eram constantemente representadas.
A igreja medieval não era de toda unificada. O baixo clero aos poucos se tornava rebeldes aos excessos da igreja, se relacionava com o povo, e participava das festas populares, essa forma da liberação da igreja medieval, contribuiu para inserção de elementos cômicos que, eventualmente ofendiam o Alto-clero. E, conseqüentemente, o teatro acabou saindo de dentro da igreja. Em algumas cidades o teatro foi absorvido pela comunidade. As peças religiosas tornaram-se propriedade da cidade. Os cenários tornaram-se suntuosos e por vezes ocupavam partes inteiras da cidade os elencos eram imensos chegando a ter trezentas pessoas. Por toda a Europa tais espetáculos se repetiam com grande vivacidade.
Os autores dessas peças eram, em alguns casos, mimos ou menestréis profissionais que atuavam juntos com o membro do baixo clero. Não se sabe quem escreveu a maior parte dos mistérios, sabe-se, porém que as peças eram baseadas nos dramas litúrgicos latinos e que, muito provavelmente, foram escritos por sacerdotes. De forma geral eram simples episódios de um drama que podiam prolongar-se por diversos dias.
As paixões ou peças de páscoas foram desenvolvidas por volta do século XIII. E os ciclos completos incluindo tanto as peças de Natal como as peças de Páscoa, atingiram seu apogeu no século XV.
Aos ventos das transformações sociais e políticas, o teatro sofreu uma transformação. Até certo ponto, a Reforma Protestante contribuiu com a preservação dos milagres. Por sua vez, a Contra-Reforma católica, viu nas peças um efetivo instrumento de fé e encorajou sua sobrevivência até os nossos dias.