A Idée Fixe pela qual o herói está obcecado também é maneirista, a compulsão que governa seus movimentos, e o caráter de marionete que, por conseguinte, toda a ação adquire. O estilo grotesco e caprichoso da apresentação, a natureza arbitrária, disforme e extravagante da estrutura, é maneirista, o insaciável prazer do narrador em introduzir mais e mais episódios, comentários e excursos novos; os saltos cinemáticos na história , as digressões e “dissolvências” .
Quando a hierarquia é abalada...o sistema adoece. (Troilo e Cressida,1.3), eis a quintessência de sua filosofia social.
Shakespeare, vê o mundo através dos olhos de um cidadão abstrato, de mentalidade liberal cético e, em alguns aspectos, desiludido. Expressa concepções políticas que estão radicadas na idéia de direitos humanos – condena os abusos de poder e a opressão de que é vitima o povo comum, mas também condena o que chama a arrogância e a prepotência da população e, em sua inquietação burguesa e receio de anarquia, coloca o principio de “ordem” acima de todas as considerações humanitárias.
Certamente não era um revolucionário nem um lutador por natureza, mas estava do mesmo lado daqueles que impediriam o renascimento da nobreza por seu saudável racionalismo.
Os dramas históricos de Shakespeare deixam suficientemente claro que na luta entre a Coroa, a classe média e a pequena nobreza, de um lado, e a aristocracia feudal, de outro, o dramaturgo não se colocava, de maneira nenhuma, do lado dos cruéis e arrogantes rebeldes, seus interesses e inclinações vinculavam-no às camadas sociais que englobavam a classe média e a aristocracia de mentalidade liberal que adotara a concepção de vida da média, e que formavam um grupo progressista, de qualquer modo, em contraste com a antiga nobreza feudal. Apesar de sua simpatia pela atitude da classe dominante em relação à vida Shakespeare manteve-se do lado do saudável senso comum, da justiça e do sentimento espontâneo. Cordélia é a mais pura consubstanciação dessas virtudes em pleno ambiente feudal.
Personagens como Brutus, Hamlet, Timon e, sobretudo, Troilo representam mais puramente o tipo quixotesco. O idealismo transcendente, a ingenuidade e a credulidade de todos eles são qualidades que têm em comum com Dom Quixote, a única característica peculiar da visão shakespeariana é o terrível despertar do embuste e da ilusão em que viviam e o infortúnio imenso que decorre do reconhecimento tardio da verdade.
Seu anterior contentamento com as condições vigentes e o otimismo a respeito do futuro foram abalados, e, embora se mantivesse fiel ao principio de ordem, ao apreço pela estabilidade social e à rejeição do ideal heróico da cavalaria feudal, parece ter perdido a confiança no absolutismo maquiavelista e numa economia implacavelmente aquisitiva. O desvio de Shakespeare para o pessimismo tem sido relacionado à tragédia do conde de Essex, na qual o patrono do poeta, Southampton, também estava envolvido, e também há referencias a outros eventos desagradáveis na história do tempo, como a inimizade entre Elizabeth e Maria Stuart, a perseguição dos puritanos, a gradual transformação da Inglaterra num Estado policial, o fim do governo relativamente liberal de Elizabeth e a nova tendência feudalista com Jaime I, o clímax no conflito entre a monarquia e a classe média de mentalidade puritana, como possíveis causas dessa mudança. O fato de que, daí em diante, o poeta sente mais simpatia pelas pessoas que são fracassos na vida pública do que por aquelas que têm boa sorte e sucesso. Tem particular afeto por Brutus, o trapalhão político e sujeito azarado. O pessimismo de Shakespeare tem um significado superindividual e ostenta as marcas de uma tragédia histórica. Podemos dividir sua carreira literária em várias fases: O autor dos poemas “Vênus e Adônis” e “Lucrécia” ainda é um poeta que obedece ao gosto humanista em moda e escreve para círculos da aristocracia palaciana.
A lírica e a Épica são agora as formas literárias favoritas nos círculos palacianos cultos, ao lado das quais o teatro, com seu atrativo público mais vasto, é considerado uma forma relativamente plebéia de expressão.
A literatura renascentista inglesa é cortesã e diletante. Quanto à origem desses littérateurs, sabemos que Marlowe era filho de um sapateiro, Peele de um ourives e Dekker de um alfaiate, e que Bem Jonson começou abraçando a profissão do pai e tornou-se pedreiro; mas somente uma proporção relativamente pequena de escritores é oriunda das camadas inferiores da sociedade, sendo a maioria provavelmente de pequena nobreza, do funcionalismo e da rica classe de mercadores.
Na era elisabetana, a cultura literária é uma das mais importantes aquisições que se esperam de um homem bem nascido. A literatura é agora a grande voga e é de bom-tom discorrer sobre poesia e discutir problemas literários. O estilo afetado da poesia da moda é transferido para a conversação ordinária; até mesmo a rainha fala nesse estilo artificial, e não falar nele é considerado um sinal de falta de educação, tão grave quando não saber falar Francês. A literatura converte-se num jogo de sociedade.
E no entanto a existência material de um dramaturgo, escrevendo para os teatros públicos que são tão populares em todas as classes da sociedade, é mais estável e mais tranqüila do que a dos escritores que dependem de um patrocinador privado. É verdade que as peças em si são malpagas – Shakespeare adquire sua fortuna não como dramaturgo, mas como acionista de um teatro – porém a constante procura garante uma renda regular. Assim, quase todos os escritores da época trabalham para o teatro, pelo menos por algum tempo, todos tentam a sorte no teatro, embora muitas vezes com certo constrangimento.
No final da Idade Média, as grandes casas senhoriais tinham seus próprios atores – em emprego permanente ou temporário – bem como seus próprios menestréis , originalmente, talvez fossem idênticos.
Na era Elisabetana já começa uma busca desenfreada de patrocinadores. O antigo relacionamento patriarcal entre mecenas e protegido está em processo de dissolução. Shakespeare também aproveita a oportunidade de transferir seus talentos para o teatro. Essa mudança para o teatro marca o inicio da segunda fase do desenvolvimento artístico de Shakespeare. As obras que agora escreve já não possuem o tom classicizante e afetadamente idílico de suas primeiras produções, mas ainda se harmonizam com o gosto das classes superiores. São, em parte, crônicas altaneiras, grandes peças históricas e políticas, nas quais a idéia de monarquia é exaltada, em parte comédias alegres, exuberantemente românticas, que se desenrolam, cheias de otimismo e alegria de viver, despreocupadas com os cuidados do dia a dia, num mundo completamente fictício. Perto da virada do século, começa o terceiro e trágico período no desenvolvimento de Shakespeare, o poeta agora abandonou muito para trás o eufuísmo e o romantismo jocoso das camadas superiores da sociedade, mas também parece ter-se distanciado das classes médias. Escreve suas tragédias para o grande e heterogêneo público dos teatros londrinos sem levar em conta esta ou aquela classe em particular. Mesmo as chamadas comédias desse período estão repletas de melancolia. Segue-se então a última fase no desenvolvimento do poeta: um tempo de resignação e suave tranqüilidade... com tragicomédias que uma vez mais refletem o estado de ânimo romântico. Shakespeare deixa a classe média, que dia a dia se torna mais míope. Mais tacanha e intolerante em seu puritanismo, cada vez mais atrasada e distante dele. Os ataques das autoridades civis e eclesiásticas contra o teatro aumentam de violência; os atores e dramaturgos contam uma vez mais com seus mecenas e protetores nos círculos da corte e na nobreza e adaptam-se mais aos gostos deles.Shakespeare volta a escrever peças em que predominam os elementos romântico-fabulosos e que são, em muitos aspectos, reminiscência dos espetáculos e masques da corte. Cinco anos antes de morres, no auge de seu desenvolvimento, Shakespeare retira-se do teatro e para inteiramente de escrever peças. Shakespeare deixou o teatro saturado ou desgostoso, uma coisa é certa, durante a maior parte de sua carreira teatral, ele se manteve numa relação muito positiva com seu público, embora favorecesse diferentes segmentos deste durante as várias fases de seu desenvolvimento e acabasse não sendo capaz de identificar-se completamente com qualquer deles, em todo o caso Shakespeare foi o primeiro, se não o único grande poeta em toda a história do teatro, a atrair e a receber plena aprovação de um público numeroso e heterogêneo que abrangia quase todos os níveis da sociedade.
Quando a hierarquia é abalada...o sistema adoece. (Troilo e Cressida,1.3), eis a quintessência de sua filosofia social.
Shakespeare, vê o mundo através dos olhos de um cidadão abstrato, de mentalidade liberal cético e, em alguns aspectos, desiludido. Expressa concepções políticas que estão radicadas na idéia de direitos humanos – condena os abusos de poder e a opressão de que é vitima o povo comum, mas também condena o que chama a arrogância e a prepotência da população e, em sua inquietação burguesa e receio de anarquia, coloca o principio de “ordem” acima de todas as considerações humanitárias.
Certamente não era um revolucionário nem um lutador por natureza, mas estava do mesmo lado daqueles que impediriam o renascimento da nobreza por seu saudável racionalismo.
Os dramas históricos de Shakespeare deixam suficientemente claro que na luta entre a Coroa, a classe média e a pequena nobreza, de um lado, e a aristocracia feudal, de outro, o dramaturgo não se colocava, de maneira nenhuma, do lado dos cruéis e arrogantes rebeldes, seus interesses e inclinações vinculavam-no às camadas sociais que englobavam a classe média e a aristocracia de mentalidade liberal que adotara a concepção de vida da média, e que formavam um grupo progressista, de qualquer modo, em contraste com a antiga nobreza feudal. Apesar de sua simpatia pela atitude da classe dominante em relação à vida Shakespeare manteve-se do lado do saudável senso comum, da justiça e do sentimento espontâneo. Cordélia é a mais pura consubstanciação dessas virtudes em pleno ambiente feudal.
Personagens como Brutus, Hamlet, Timon e, sobretudo, Troilo representam mais puramente o tipo quixotesco. O idealismo transcendente, a ingenuidade e a credulidade de todos eles são qualidades que têm em comum com Dom Quixote, a única característica peculiar da visão shakespeariana é o terrível despertar do embuste e da ilusão em que viviam e o infortúnio imenso que decorre do reconhecimento tardio da verdade.
Seu anterior contentamento com as condições vigentes e o otimismo a respeito do futuro foram abalados, e, embora se mantivesse fiel ao principio de ordem, ao apreço pela estabilidade social e à rejeição do ideal heróico da cavalaria feudal, parece ter perdido a confiança no absolutismo maquiavelista e numa economia implacavelmente aquisitiva. O desvio de Shakespeare para o pessimismo tem sido relacionado à tragédia do conde de Essex, na qual o patrono do poeta, Southampton, também estava envolvido, e também há referencias a outros eventos desagradáveis na história do tempo, como a inimizade entre Elizabeth e Maria Stuart, a perseguição dos puritanos, a gradual transformação da Inglaterra num Estado policial, o fim do governo relativamente liberal de Elizabeth e a nova tendência feudalista com Jaime I, o clímax no conflito entre a monarquia e a classe média de mentalidade puritana, como possíveis causas dessa mudança. O fato de que, daí em diante, o poeta sente mais simpatia pelas pessoas que são fracassos na vida pública do que por aquelas que têm boa sorte e sucesso. Tem particular afeto por Brutus, o trapalhão político e sujeito azarado. O pessimismo de Shakespeare tem um significado superindividual e ostenta as marcas de uma tragédia histórica. Podemos dividir sua carreira literária em várias fases: O autor dos poemas “Vênus e Adônis” e “Lucrécia” ainda é um poeta que obedece ao gosto humanista em moda e escreve para círculos da aristocracia palaciana.
A lírica e a Épica são agora as formas literárias favoritas nos círculos palacianos cultos, ao lado das quais o teatro, com seu atrativo público mais vasto, é considerado uma forma relativamente plebéia de expressão.
A literatura renascentista inglesa é cortesã e diletante. Quanto à origem desses littérateurs, sabemos que Marlowe era filho de um sapateiro, Peele de um ourives e Dekker de um alfaiate, e que Bem Jonson começou abraçando a profissão do pai e tornou-se pedreiro; mas somente uma proporção relativamente pequena de escritores é oriunda das camadas inferiores da sociedade, sendo a maioria provavelmente de pequena nobreza, do funcionalismo e da rica classe de mercadores.
Na era elisabetana, a cultura literária é uma das mais importantes aquisições que se esperam de um homem bem nascido. A literatura é agora a grande voga e é de bom-tom discorrer sobre poesia e discutir problemas literários. O estilo afetado da poesia da moda é transferido para a conversação ordinária; até mesmo a rainha fala nesse estilo artificial, e não falar nele é considerado um sinal de falta de educação, tão grave quando não saber falar Francês. A literatura converte-se num jogo de sociedade.
E no entanto a existência material de um dramaturgo, escrevendo para os teatros públicos que são tão populares em todas as classes da sociedade, é mais estável e mais tranqüila do que a dos escritores que dependem de um patrocinador privado. É verdade que as peças em si são malpagas – Shakespeare adquire sua fortuna não como dramaturgo, mas como acionista de um teatro – porém a constante procura garante uma renda regular. Assim, quase todos os escritores da época trabalham para o teatro, pelo menos por algum tempo, todos tentam a sorte no teatro, embora muitas vezes com certo constrangimento.
No final da Idade Média, as grandes casas senhoriais tinham seus próprios atores – em emprego permanente ou temporário – bem como seus próprios menestréis , originalmente, talvez fossem idênticos.
Na era Elisabetana já começa uma busca desenfreada de patrocinadores. O antigo relacionamento patriarcal entre mecenas e protegido está em processo de dissolução. Shakespeare também aproveita a oportunidade de transferir seus talentos para o teatro. Essa mudança para o teatro marca o inicio da segunda fase do desenvolvimento artístico de Shakespeare. As obras que agora escreve já não possuem o tom classicizante e afetadamente idílico de suas primeiras produções, mas ainda se harmonizam com o gosto das classes superiores. São, em parte, crônicas altaneiras, grandes peças históricas e políticas, nas quais a idéia de monarquia é exaltada, em parte comédias alegres, exuberantemente românticas, que se desenrolam, cheias de otimismo e alegria de viver, despreocupadas com os cuidados do dia a dia, num mundo completamente fictício. Perto da virada do século, começa o terceiro e trágico período no desenvolvimento de Shakespeare, o poeta agora abandonou muito para trás o eufuísmo e o romantismo jocoso das camadas superiores da sociedade, mas também parece ter-se distanciado das classes médias. Escreve suas tragédias para o grande e heterogêneo público dos teatros londrinos sem levar em conta esta ou aquela classe em particular. Mesmo as chamadas comédias desse período estão repletas de melancolia. Segue-se então a última fase no desenvolvimento do poeta: um tempo de resignação e suave tranqüilidade... com tragicomédias que uma vez mais refletem o estado de ânimo romântico. Shakespeare deixa a classe média, que dia a dia se torna mais míope. Mais tacanha e intolerante em seu puritanismo, cada vez mais atrasada e distante dele. Os ataques das autoridades civis e eclesiásticas contra o teatro aumentam de violência; os atores e dramaturgos contam uma vez mais com seus mecenas e protetores nos círculos da corte e na nobreza e adaptam-se mais aos gostos deles.Shakespeare volta a escrever peças em que predominam os elementos romântico-fabulosos e que são, em muitos aspectos, reminiscência dos espetáculos e masques da corte. Cinco anos antes de morres, no auge de seu desenvolvimento, Shakespeare retira-se do teatro e para inteiramente de escrever peças. Shakespeare deixou o teatro saturado ou desgostoso, uma coisa é certa, durante a maior parte de sua carreira teatral, ele se manteve numa relação muito positiva com seu público, embora favorecesse diferentes segmentos deste durante as várias fases de seu desenvolvimento e acabasse não sendo capaz de identificar-se completamente com qualquer deles, em todo o caso Shakespeare foi o primeiro, se não o único grande poeta em toda a história do teatro, a atrair e a receber plena aprovação de um público numeroso e heterogêneo que abrangia quase todos os níveis da sociedade.