domingo, 5 de abril de 2009

Eugene O'Neill

O realismo foi um movimento artístico e cultural que se desenvolveu na segunda metade do século XIX. A característica principal deste movimento foi a abordagem de temas sociais e um tratamento objetivo da realidade do ser humano. Possuía um forte caráter ideológico, marcado por uma linguagem política e de denúncia dos problemas sociais como, por exemplo: miséria, pobreza, exploração, corrupção entre outros. Como a linguagem clara, os artistas e escritores realistas iam diretamente ao foco da questão, reagindo, desta forma, ao subjetivismo do romantismo. Uma das correntes do realismo foi o naturalismo. Onde a objetividade está presente, porém sem o conteúdo ideológico.
No teatro realista o herói romântico é trocado por pessoas comuns do cotidiano. Os problemas sociais transformam-se em temas para os dramaturgos realistas. A linguagem sofisticada do romantismo é deixada de lado e entra em cena as palavras comuns do povo.
Nascido em Nova York (16/10/1888-27/11/1993), Eugene Gladstone O'Neill, foi um dramaturgo anarquista e socialista, vencedor do Nobel de Literatura em 1936 e do Prêmio Pulitzer por várias vezes.
Suas peças estão entre as primeiras a introduzir as técnicas do realismo influenciado principalmente por Anton Chekhov, Henrik Ibsen e August Strindberg. Sua dramaturgia envolve personagens que habitam as margens da sociedade com seu comportamento desregrado, tentando manter inalcansáveis aspirações e esperanças do milagre Norte-Americano ‘.tendo escrito apenas uma comédia (Ah Wilderness), todas as suas peças desenvolvem graus de tragédias pessoal e pessimismo. Sua dramaturgia influencia reconhecidamente um importante dramaturgo brasileiro: Nelson Rodrigues.

Infância e adolescência

Eugene O”Neill nasceu em um hotel na Broadway como o terceiro filho de uma família onde o segundo filho, Edmund (1885) havia falecido com um ano e meio de idade vitima de saramo. Seu pai, James O’Neill (1849-1920) era um ator irlandês, que em 1850 veio com seus pais aos Estados Unidos, teve uma vida simples e nunca se curou de uma avareza doentia, desenvolvida durante os tempos difíceis. Eugene O’Neill viajou quando criança com os pais e com o irmão mais velho, James Jr. (1878-1923) na turnê do pai por todo os Estados Unidos e portanto conheceu o teatro desde muito cedo. O Catolicismo irlandês mais pé-no-chão do pai e o misticismo da Mãe, Ellen Quinlan(1858/1922), criaram uma confusão na cabeça de O’Neill em relação a Deus e a Religião, características que se transcendeu para suas obras.
A insegurança de seus primeiros anos, citada por ele próprio como comparável a um pesadelo (I had no childhood- não tive infância) levou também sua mãe a tornar-se dependente química (abandonando o teatro). Isto fez com que Eugene mais tarde acusasse o pai como sendo o culpado. Quando não estava com a família em Torne, freqüentava internatos variados, até chegar à adolescência, em uma escola não religiosa. Eugene passava algumas de suas férias de verão (entre julho e agosto), com a família em uma casa de campo em New London (Connecticut), após o término do colégio. O’Neill se matriculou na universidade de Princeton, mais precisamente no outono de 1906. entretanto, foi expulso já em junho do ano seguinte por ter arremessado uma garrafa de cerveja pela janela do reitor da universidade, que mais tarde veio a se tornar presidente dos Estados Unidos. Sr. Woodrow Wilson.

Uma vida sem rumo

O’Neill que não tinha mesmo qualquer vontade de cursar a faculdade, não conseguia ficar muito tempo no mesmo trabalho até que conseguiu uma vaga de secretário em uma firma nova-iorquina de entregas, onde seu pai estava empregado. Após o fechamento da empresa, casou-se com a jovem nova iorquina Kathleen Jenkins em outubro de 1909. o casamento não foi aprovado pela família da moça e foi neste mesmo ano que ele resolveu fazer as malas e partir Honduras à procura de ouro na companhia de um engenheiro de mineração. Em março do ano seguinte, devido a melaria O’Neill teve que retornar à Nova Iorque.
O pai de Eugene o fez assistente administrativo do elenco de sua companhia de teatro e viajaram juntos de St.Louis no estado americano de Missouri até Boston, Eugene que não se interessava muito pelo trabalho recém adquirido, aproveitou o fim da viagem e se aventurou em sua primeira viagem pelo mar.
As viagens como marinheiro até a América do Sul e África (65 dias em um navio norueguês de Boston até Buenos Ayres e África do Sul, possibilitou-o manter contato com pessoas desertores, exilados e marginais e todo tipo que auxliaram-no na formação de seu caráter.
Na Argentina Eugene encontrou emprego no departamento de desenho técnico da Companhia Elétrica Westinghouse, depois trabalhou em uma ‘Wollpackanlage em La Plata e por fim no escritório da fábrica de maquinas de costura Singer em Buenos Ayres.
Seguiu então viagem para Durban na África do Sul e em seguida voltou para a Argentina como peão em uma transportadora de gado.
Eugene permaneceu muito tempo sem recursos vivendo como desabrigado e alcoólatra no bairro próximo ao porto de Buenos Ayres e da mesma maneira viveu em Nova York e posteriormente em Liverpool na Inglaterra. Finalmente engajou-se na profissão de marinheiro em um navio inglês. Em seguida veio sua última viagem pelo mar como marujo na linha americana New York Southampton .

Aos 23 anos entrou para o elenco de seu pai em uma pequena peça entre (1911/1912 , e trabalhou. Após voltar de uma viagem de 15 semanas com a família em New London por quase seis meses como repórter no New London Telegraph, em que escreveu poemas (em sua maioria satíricos) do mês de agosto ao dia 24 de dezembro. O editor do jornal tinha por ele uma grande simpatia, apesar da inconfundível visão de O’Neill Frederik Latimer foi também o primeiro que reconheceu em O’Neill o talento nato.
Após uma tentativa de suicídio em 1912 e o rompimento de seu curto casamento com Kathleen Jenkins no mesmo ano (pouco antes do nascimento do pequeno Eugene Jr. – O garoto só veio a conhecer o pai por volta dos doze anos deidade 1923) O’Neill permaneceu cinco meses em um sanatório na fazenda de Gaylord para tratar de tuberculose. Ele não foi algemado em nenhum momento pois a terapia consistia no enrijecimento do corpo. Lá sua saúde voltou ‘mais ou menos’ ao normal parou-se o avanço da doença. E este acontecimento marcou a cisão do período desregrado e sem rumo que viveu.

Primeira peça de O’neill Rumo a Cardiff , estreou no teatro em Provincetown, Massachusetts. No Sanatório leu Ibsen, Strindberg, Nietzche e Dostoievski compulsivamente e sentiu que escrever era o que queria fazer pelo resto de sua vida. Pela primeira vez sentiu o prazer de impulso que o levou a escrever peças e trabalhar artisticamente as expressões vividas até então. Após sua saída na primavera seguinte (1913), permaneceu por um tempo em casa, e assim que a temporada começou novamente foi morar durante pouco mais de um ano com uma família inglesa. Neste período Eugene leu muito, meditou, praticou esportes, nadou diariamente pelas manhãs (mesmo no inverno), e acima de tudo escreveu muito: em um período de 15 meses escreveu onze peças de um ato, dois dramas e alguns poemas. Por seu drama. ‘Além do Horizonte’ , Eugene foi consagrado com o Premio Pulitzer em 1920. foi o primeiro dramaturgo americano a receber o prêmio Nobel de Literatura 91936), pela força , verdade e sentimentos profundos que trouxe à sua obra dramática ao encarnar uma idéia própria de tragédia.
O’Neill se refere em suas peças a personagens inteiramente despedaçados que tentam através de auto- enganação e embriagês fugir da responsabilidade sobre suas vidas. Com realismo radical expõe o abismo de suas personagens. Que sobrevivem de culpas recalcadas, sentimentos falsos e resignação e que se envolvem em lutas sem sentimento uns com os outros. As referencias de O’Neill às tragédias gregas não são claras na sua trilogia em 13 atos ‘Electra enlutada’ (1913), As ligações mais claras entre a vida de O’Neill e sua obra estão na peça ‘Longa Jornada noite adentro” (1941), que a estréia apenas foi liberada muito tempo após sua morte, conforme previu seu testamento. Ele deixou a seguinte frase para sua esposa na dedicatória da peça: Te presenteio o manuscrito original desta peça. Ela fala de magoas antigas e foi escrita com muitas lagrimas e sangue. Ele conseguiu passar ao papel uma auto-imagem através do personagem Edmund, em um mundo sem sentido e imponderável.
Morreu em 1953 em um hotel em Boston, vitima de Tuberculose. “Nasci num quarto de hotel e morri num maldito quarto de hotel, poderiam ter sido suas últimas palavras”.