Quando um personagem nasce, adquire imediatamente tal independência inclusive do seu próprio autor, que pode ser imaginado por todos em tantas outras situações em que o autor não pensou inseri-lo, e às vezes pode adquirir também um significado que o autor jamais sonhou em dar-lhe!
"Seis Personagens em Busca de Autor" Tema
Luigi Pirandello nasceu em Agrigento, na Sicília, em 28 de junho de 1867. Foi um dramaturgo, poeta, romancista. Tornou-se um grande renovador da estética teatral, com seu profundo sentido de humor e sua originalidade. Suas obras mais famosas são: Seis personagens a procura de um autor, Assim é, se lhe parece, Cada um a seu modo, Vestir os nús, Esta noite se improvisa, Henrique IV e, o inacabado Gigantes da Montanha. Seu romances O falecido Mattia Pascal e "Um, Nenhum e Cem Mil" também foram transformados em teatro e cinema.
Em seu livro “Do teatro ao teatro”, há um capítulo chamado: O Humorismo, no qual o autor propõe que “o cômico nasce de uma percepção do contrário. Mas essa percepção pode se transformar num sentimento do contrário: é quando aquele que ri procura entender as razões da piada", abrindo mão, assim, do distanciamento. Pirandello separa o cômico do humorístico. Diz que para passar da atitude cômica para a atitude humorística é preciso renunciar ao distanciamento e à superioridade.
Luigi Pirandello participou da campanha "coleta do ouro", organizada pelo ditador italiano Benito Mussolini, que visava levantar fundos para o país. A campanha era uma resposta à Liga Nações que impôs sanções econômicas à Itália após esta ter invadido e declarado guerra a Etiopia (1935-36). Nesse período, alinhado com o fascismo de Mussolini, Pirandello ganhou o Nobel em 1934 e doou todo o prêmio para a campanha de anexação da Etiópia.
Pirandello foi um dos mais importantes autores do teatro moderno europeu. Inovador em sua estética dramaturgia. Suas peças fazem uma análise psicológica da natureza humana, baseando-se na obra de Sigmund Freud e de Alfred Binet.
Estudou na Universidade de Roma e especializou-se em filologia na Universidade de Bonn, Alemanha. Ao voltar à Itália, alguns anos depois enfrenta problemas financeiros que levam sua mulher à loucura. Passa a dar aulas de italiano e escreve o primeiro romance de sucesso, O Falecido Mattia Pascal (1904), cuja principal influência é o realismo italiano do século XIX.
Em Os Velhos e os Jovens (1913), critica a decadente burguesia italiana. Para o teatro, o primeiro sucesso é Assim é se lhe parece, de 1917.
Em 1921 inaugura a estética do teatro dentro do teatro com Seis personagens à procura de um autor; tida como sua principal peça.
Outro sucesso é Henrique IV, de 1922, em que a loucura aparece camuflada sob a aparência de normalidade.
É assim que Pirandello qualifica a sua última obra, "Os Gigantes da Montanha", quando está ainda a meio caminho no seu trabalho de escrita: Humorous/Tragedy, este aparente paradoxo nos oferece uma combinação de sombras e de luz, de encantos e de crueldade. Cotrone, é o mágico poeta, porta-voz de Pirandello, que convida-nos, do crepúsculo até à madrugada, no espaço duma noite, a rasgar a trama do tempo que passa. O seu território é uma "casa céu". Se se passar a porta, penetra-se num vasto quarto escuro, câmara de eco, lugar de todos os sortilégios. Para provocar a travessia das aparências e o aparecimento da verdade escondida no fundo de cada um de nós, torna-se encenador. O teatro dele, o seu palco, é o inconsciente. Como Lewis Caroll, diverte-se a fazer com que o Ser e o Parecer se confrontem. Chega mesmo a fazer reluzir a tentação de se desfazer o parecer para sempre, em proveito da total liberdade do ser. O seu jogo é desembaraçar o impulso vital, reconhecer a pulsão da morte, aceitar os desejos escondidos "nas cavernas do instinto". O subterfúgio é tanto mais eficaz quanto os seus hóspedes de uma noite são atores. São sete atores, últimos elementos de uma companhia desgastada, arruinada, com falta de público para quem representar. Ser e parecer, entre estes dois pólos oscila, precisamente, no trabalho dos atores. Cotrone lembra-lhes que a essência da arte está contida nos jogos dramáticos ou nos jogos divertidos da infância. Acreditar, abandonar-se como as crianças: então tudo se torna possível. E prova-o! Mas no nosso pobre mundo, aquele que Cotrone abandonou há muito, é o princípio de realidade que prevalece. Uma companhia de teatro, fixa ou itinerante, precisa do público para viver e para sobreviver. Esta história expõe-nos o conflito trágico entre as razões irreprimíveis da arte e uma sociedade onde a arte só tem a justificação do mercado. Apesar do seu lado utopista e marginal, o mundo de Cotrone e dos seus amigos, os Scalognati, oferece, todavia, traços do real; é um mundo onde se exprime um certo realismo místico, um realismo mágico, e sobretudo, um realismo metafísico. Àquela fugitiva tentação de abandono, de renúncia, Ilse Paulse, a grande atriz caída, resiste. Partirá, sozinha, para enfrentar os "Gigantes", enquanto as últimas palavras da peça ficam a ressoar de pavor no meio do ruído crescente: "Tenho medo, tenho medo…" Será preciso segui-la até ao fim? Será preciso prestar atenção ao aviso de Cotrone? Será preciso vencer, ou ceder ao medo dos "Gigantes"? Porque, finalmente, quem são aqueles "Gigantes"?O "grande Outro"? As figuras impossíveis de olhar dos nossos medos ancestrais? Uma parte de nós mesmos…
Em dez de dedzembro de 1936, Pirandello morreu, em Roma, Itália, aos 79 anos.