(1469-1527) Um dia, por volta de 1518, sem muita vontade de ler ou escrever sobre política e história, Maquiavel lançou-se à inconseqüente e divertida tarefa de escrever uma comédia: A Mandrágora. Ao terminar, o autor desculpava-se, no prólogo da peça, por escrever essa obra, indigna de um escritor “sábio e grave”. Mas isso não o impediu de escrever outras duas e que A Mandrágora fosse considerada uma obra-prima do teatro italiano.
No ano de seu nascimento, 1469, o pintor Sandro Boticelli (1444-1494) teve em Florença a primeira encomenda importante de Lourenço, o Magnífico (1449-1492); e o jovem Leonardo da Vinci (1435-1519) trabalhava com o mestre Andrea Verrocchio (1435-1488) no Batismo de Cristo. Nesse magnífico ano do governo de Lourenço de Médici, o grande mecenas, a 3 de maio, messer Bernardo Maquiavel agradeceu à sua mulher Bartolomea por lhe dado um primogênito macho e chamou-o de Nicolau. Nicolau cresceu entre os livros, pacientemente, copiados por seu pai. Quando Lourenço de Médici morreu, Maquiavel decidiu tornar-se um homem de Estado, independentemente de quem governasse. Enquanto aguardava para entrar no serviço público florentino assistia curioso às mudanças políticas de sua cidade. Viu, por exemplo, a família Médici sair do poder, em1494, e, a viu de perto a conversão da magnífica cidade de Florença, na cidade de Deus, onde Cristo era o rei e o monge Savonarola, o chefe de Estado.
No fim do século XV, Florença não era mais o ateliê cultural do Renascimento. Savonarola atacava violentamente as manifestações artísticas da época, atribuindo-lhes caráter pagão e demoníaco, e, levando boa parte da população a compartilhar de sua fúria iconoclasta. No entanto, por ordem do Papa Alexandre VI (1431-1503), o monge Savonarola e seus excessos foram condenados a fogueira, em1498. Neste mesmo ano, Nicolau Maquiavel assume seu primeiro cargo público, assessor da Chancelaria florentina, a serviço da República. Era responsável pela correspondência diplomática. Rapidamente chegou a ao cargo de Segundo Chanceler da República.
A Itália compunha-se de pequenos estados divididos, convulsionados por lutas internas e pressionados por governos europeus mais poderosos. Sem uma liderança que pudesse unificá-la, a Itália parecia sucumbir. Maquiavel tinha a percepção das limitações de seu meio e sabia que a pequena república de Florença era frágil o suficiente para ser invadida, como o foi em 1501, e não contar com apoio, nem dos aliados como a França, para socorre-la. Na guerra contra Pisa, o exército de César Bórgia (1475-1507) confirmava o temor de Maquiavel quanto ao efetivo apoio de aliados poderosos. Maquiavel acabou sendo designado pelo próprio Papa Alexandre VI, para acompanhar Bórgia em missão diplomática. Ali, Maquiavel reconheceu em César Bórgia a única figura capaz de unificar a Itália e de evitar a dominação estrangeira.
Em 1512 os Médici voltam finalmente ao poder e Maquiavel, que estava muito vinculado aos Bórgia acaba sendo condenado a permanecer em território florentino e a pagar uma caução de 1000 florins. A partir de 1513, Maquiavel e seu irmão Bernardo foram obrigados a viver confinados em sua casa de campo em San Caciano.
De seu encontro com César Bórgia surgiram às bases para escrever O Príncipe, mais do que uma tentativa de entender a realidade, o livro acabou se tornando um manual de como se usar o poder. Maquiavel sustentava que virtú e fortuna eram os elementos mais importantes para a ação de um governante. A fortuna corresponderia àquela parte da vida que não poderia ser controlada pelo indivíduo: as circunstâncias. A fortuna porém, poderia proporcionar a virtú do governante, que saberia determinar, dentro de certas circunstâncias, o momento no qual sua ação poderia funcionar com sucesso. O processo político estaria, inclusive, segundo Maquiavel, além da moral e dos preceitos religiosos. O príncipe virtuoso seria o que soubesse ser bom e ser mau, traiçoeiro e piedoso, violento e complacente. Porque o Estado deveria estar acima da moral e ser governado em nome de seus interesses.
No período de exílio em San Casciano, Maquiavel tentou pela primeira vez o que ele chamava de “distrações literárias”. Os primeiros foram os Capitolli, escritos em tercetos. Seguiu-se Asino D’Oro fábula satírica em versos e uma série de Canti Carnascialeschi (Cantos carnavalescos) e a comédia Andria. Mas suas melhores obras cômicas são a novela Belfagor (O Demônio que se casou) e as comédias A Mandrágora e Clizia.
Clizia conta a história de um jovem e de um velho, pai e filho que se apaixonam pela mesma mulher. Mas da disputa, sai o jovem vencedor. É inspirada em uma comédia de Plauto (Casina), mas, enquanto Plauto ambienta sua história em Atenas, Maquiavel ambienta sua história em Florença.
Quando em 1527 Os Médici foram depostos em favor da República de Nicolau Capponi, Maquiavel se manteve recolhido em seu gabinete a maior parte de seu tempo escrevendo A História de Florença, encomendada ainda pelo Médici. Passou o resto de sua vida a espera de um convite para ocupar algum cargo no novo governo, mas sua estreita ligação com o governo anterior lhe impossibilitou de exercer qualquer cargo nesta nova república. Maquiavel morreu em 22 de junho de 1527, sufocado pela amargura e na mais completa miséria.
No ano de seu nascimento, 1469, o pintor Sandro Boticelli (1444-1494) teve em Florença a primeira encomenda importante de Lourenço, o Magnífico (1449-1492); e o jovem Leonardo da Vinci (1435-1519) trabalhava com o mestre Andrea Verrocchio (1435-1488) no Batismo de Cristo. Nesse magnífico ano do governo de Lourenço de Médici, o grande mecenas, a 3 de maio, messer Bernardo Maquiavel agradeceu à sua mulher Bartolomea por lhe dado um primogênito macho e chamou-o de Nicolau. Nicolau cresceu entre os livros, pacientemente, copiados por seu pai. Quando Lourenço de Médici morreu, Maquiavel decidiu tornar-se um homem de Estado, independentemente de quem governasse. Enquanto aguardava para entrar no serviço público florentino assistia curioso às mudanças políticas de sua cidade. Viu, por exemplo, a família Médici sair do poder, em1494, e, a viu de perto a conversão da magnífica cidade de Florença, na cidade de Deus, onde Cristo era o rei e o monge Savonarola, o chefe de Estado.
No fim do século XV, Florença não era mais o ateliê cultural do Renascimento. Savonarola atacava violentamente as manifestações artísticas da época, atribuindo-lhes caráter pagão e demoníaco, e, levando boa parte da população a compartilhar de sua fúria iconoclasta. No entanto, por ordem do Papa Alexandre VI (1431-1503), o monge Savonarola e seus excessos foram condenados a fogueira, em1498. Neste mesmo ano, Nicolau Maquiavel assume seu primeiro cargo público, assessor da Chancelaria florentina, a serviço da República. Era responsável pela correspondência diplomática. Rapidamente chegou a ao cargo de Segundo Chanceler da República.
A Itália compunha-se de pequenos estados divididos, convulsionados por lutas internas e pressionados por governos europeus mais poderosos. Sem uma liderança que pudesse unificá-la, a Itália parecia sucumbir. Maquiavel tinha a percepção das limitações de seu meio e sabia que a pequena república de Florença era frágil o suficiente para ser invadida, como o foi em 1501, e não contar com apoio, nem dos aliados como a França, para socorre-la. Na guerra contra Pisa, o exército de César Bórgia (1475-1507) confirmava o temor de Maquiavel quanto ao efetivo apoio de aliados poderosos. Maquiavel acabou sendo designado pelo próprio Papa Alexandre VI, para acompanhar Bórgia em missão diplomática. Ali, Maquiavel reconheceu em César Bórgia a única figura capaz de unificar a Itália e de evitar a dominação estrangeira.
Em 1512 os Médici voltam finalmente ao poder e Maquiavel, que estava muito vinculado aos Bórgia acaba sendo condenado a permanecer em território florentino e a pagar uma caução de 1000 florins. A partir de 1513, Maquiavel e seu irmão Bernardo foram obrigados a viver confinados em sua casa de campo em San Caciano.
De seu encontro com César Bórgia surgiram às bases para escrever O Príncipe, mais do que uma tentativa de entender a realidade, o livro acabou se tornando um manual de como se usar o poder. Maquiavel sustentava que virtú e fortuna eram os elementos mais importantes para a ação de um governante. A fortuna corresponderia àquela parte da vida que não poderia ser controlada pelo indivíduo: as circunstâncias. A fortuna porém, poderia proporcionar a virtú do governante, que saberia determinar, dentro de certas circunstâncias, o momento no qual sua ação poderia funcionar com sucesso. O processo político estaria, inclusive, segundo Maquiavel, além da moral e dos preceitos religiosos. O príncipe virtuoso seria o que soubesse ser bom e ser mau, traiçoeiro e piedoso, violento e complacente. Porque o Estado deveria estar acima da moral e ser governado em nome de seus interesses.
No período de exílio em San Casciano, Maquiavel tentou pela primeira vez o que ele chamava de “distrações literárias”. Os primeiros foram os Capitolli, escritos em tercetos. Seguiu-se Asino D’Oro fábula satírica em versos e uma série de Canti Carnascialeschi (Cantos carnavalescos) e a comédia Andria. Mas suas melhores obras cômicas são a novela Belfagor (O Demônio que se casou) e as comédias A Mandrágora e Clizia.
Clizia conta a história de um jovem e de um velho, pai e filho que se apaixonam pela mesma mulher. Mas da disputa, sai o jovem vencedor. É inspirada em uma comédia de Plauto (Casina), mas, enquanto Plauto ambienta sua história em Atenas, Maquiavel ambienta sua história em Florença.
Quando em 1527 Os Médici foram depostos em favor da República de Nicolau Capponi, Maquiavel se manteve recolhido em seu gabinete a maior parte de seu tempo escrevendo A História de Florença, encomendada ainda pelo Médici. Passou o resto de sua vida a espera de um convite para ocupar algum cargo no novo governo, mas sua estreita ligação com o governo anterior lhe impossibilitou de exercer qualquer cargo nesta nova república. Maquiavel morreu em 22 de junho de 1527, sufocado pela amargura e na mais completa miséria.
A Mandrágora é a história de Calímaco, homem de trinta anos, que está de volta a Florença, depois de passar muito tempo vivendo e estudando em Paris. Seu objetivo é apenas o de ver uma mulher, sobre a qual lhe disseram ser a mais bonita do mundo: Lucrecia, esposa virtuosa de messer Nícia, um velho e rico advogado. Tudo correria bem se ele não se apaixonasse por ela. Calímaco, então, ajudado por amigos consegue alcançar seu objetivo: seduzir Lucrecia. Ao saber que o casal tenta em vão ter filhos, Calímaco é apresentado à família como um especialista em fertilidade que descobriu as virtudes da raiz da Mandrágora. Mas o falso médico assegura ao marido que será necessário tomar algumas precauções, pois o primeiro homem a ter contato carnal com a mulher morreria por tratar-se de um veneno muito forte. A mãe de Lucrecia, Sóstrata convence a filha da importância do sacrifício. Durante a noite Lucrecia percebe que o vagabundo em questão é Calímaco e lhe exige votos sinceros dizendo: “eu te aceito como senhor, dono e guia; tu serás meu pai e defensor e poderá ficar comigo, sem suspeita alguma quando quiser de agora em diante.”