sábado, 10 de janeiro de 2009

Beumarchais, um herdeiro para Molière


A ópera sob a direção de Lilli se tornou uma poderosa rival mesmo durante os últimos anos de vida de Molière. A companhia de Molière, encabeçada depois de sua morte pelo ator La Grange, manteve a posição durante algum tempo, apoiando-se grandemente nas peças de Molière. Sete anos mais tarde o grupo fundiu-se com os atores do Hotel de Bourgogne e transformou-se (por determinação do governo ) num teatro oficialmente sustentado e ainda florescente, a Comédie Française. conhecida a principio sob o nome de Tréâtre Français, a companhia encenou tanto comédias quanto tragédias, e seu maior triunfo artístico no século XVIII foi constituído pelas interpretações da famosa atriz Adriene Lecouvreur,.
A despeito da popularidade da ópera de segunda categoria do Vaudeville que começou na França por essa época e da “comédia sentimental” que os franceses adequadamente denominaram de comédie larmoyante ,comédia lacrimosa, o espírito de Molière reencarnou-se, às vésperas da Revolução Francesa, em Pierre-Augustin Beamarchais, extraordinário aventureiro da nação francesa. Começou com uma comédia romântica. Eugénie, que pretendia ser um drame bourgeois à maneira de Diderot, sem alcançar seu propósito.
Foi na comédia livre de inibições que Beaumarchais imprimiu sua marca. Não tinha noção de que iria conquistar a imortalidade quando garatujou às pressas O Barbeiro de Sevilha para escapar à dor que o envolvera quando sua adorada Geneviève faleceu em conseqüência de um parto. Todas as divertidas complicações de identidade trocadas e intrigas amorosas entraram nessa comédia. Que o aristocrático namorado, o conde de Almaviva tire Rosina das mãos de seu ciumento guardião, o Dr. Bartholo, com a ajuda do barbeiro sevilhano de ínfimos recursos não é prima facie uma trama extraordinária. Mas as robustas intrigas e composições de personagens seriam suficientes para transformar o mais cediço dos temas num ‘tour de force’ , e Fígaro, sem dinheiro, mas cheio d e uma avassaladora auto-segurança, é o epítome dos plebeus confiantes em si. Exprime sua filosofia de forma cortante quando pergunta ao Conde: “em comparação com as virtudes exigidas de um doméstico, conhece vossa excelência muitos patrões dignos de serem criados? Quando o Conde, que pede sua assistência para adiantar seu namoro, o trata com civilidade, Fígaro exclama: “Maldição! Com que rapidez minha utilidade encurtou a distancia entre nós!
Os encontros subseqüentes de Beaumachais com a alta aristocracia, que resultam em seu exílio e prisão. Só aguçaram o fio de sua sátira. Na cintilante continuação do Barbeiro de Sevilha, O Casamento de Fígaro, ele “contribuiu mais para a Revolução Francesa do que o teria feito caso houvesse organizado uma revolta em 1784. na estória absolutamente impagável de como o conde espanhol tenta seduzir uma camareira que está noiva de seu lacaio Fígaro, Beaumarchais derramou todo o desprezo pela arrogante nobreza dos agonizantes anos da monarquia dos Bourbon, o temível servo, engenhoso e autoconfiante, ergue um espelho diante da aristocracia em termos bastante nítidos ao declarar: “Porque és um fino cavalheiro pensas que és um gênio? ....que fizeste para merecer todo esse esplendor? Fizeste o esforço de nascer, e isso é tudo. És um individuo muito comum enquanto que eu, um obscuro homem na multidão, precisei de mais inteligência e sabedoria para subir no mundo que aquelas que têm sido aplicadas durante os últimos anos para o governo de todas as províncias espanholas.
Não é de esperar que a peça tenha sido proibida por Luís XVI, e que sua estréia pública no Théâtre Français em 1784 resultasse num tumulto provocado pelo Terceiro Estado absolutamente delicado. Beaumarchais viveu para ver a monarquia derrubada. Apenas cinco anos depois. O próprio Beaumarchais caiu presa dos revolucionários e esperou pela guilhotina em companhia dos nobres a quem combatera durante a maior parte de sua vida. Mas o autor do Casamento de Fígaro não estava inteiramente esquecido pela Republica. Enquanto seus companheiros de prisão eram levados nas carretas para a última aparição pública. Beaumarchais era solto. Esteve em perigo ao ser incluído na lista de exilados,enquanto estava na fronteira tentando comprar fuzis. Retornou a Paris para lá morrer em maio de 1799. suas duas obras primas não perderam nada de seu brilho, e surgem nos palcos internacionais com mais freqüência que as peças de Molière – ao menos sob a forma das óperas de Rossini e Mozart.