Para honrar aos deuses, “ em cujas mãos impiedosos estão o céu e o inferno” , o povo reunia-se n grande semicírculo do teatro. Com cantos ritmados, o coro rodeava a orchestra : “ Vem, ó Musa, unir-se ao coro sagrado! Deixa nosso cântico agradar-te e vê a multidão aqui sentada! Estes hinos em forma de verso são de As Rãs, de Aristófanes. Precisamente ele, o “zombador incorrigível”, invocou novamente, em sua última comédia, o poder da tragédia grega clássica, cuja idade de ouro durou aproximadamente um século. Seu precursor foi o bardo de cego de Homero. Demódoco, que entoava seus cânticos sobre os favores e a ira dos deuses pra com os heróis em banquete, pois”quando seu apetite e sede estavam satisfeitos, a Musa inspirava o bardo a cântaros feitos de homens famosos “. ( Odisséia, VIII) .
Duas correntes foram combinadas, dando à luz a tragédia: uma delas provém do legendário menestrel da Antiguidade remota, a outra dos ritos de fertilidade dos sátiros dançantes. De acordo com Heródoto, os coros de cantores com máscaras de bode existiam desde o século VI a.C. esses coros originalmente cantavam em homenagem ao herói Adrasto, o mui celebrado rei de Argos, e Sícion, que instigou a expedição dos Sete contra Tebas. Por razões políticas. Clístenes, tirano de Sícion desde 596 ªC. transferiu tais coros de bodes para o culto a Dioniso, o deus favorito do povo da Ásia.
Dioniso, a encarnação da embriaguez e do arrebatamento, é o espírito selvagem do contraste, a contradição extática da bem-aventurança e do horror. Ele é a fonte da sensualidade e da crueldade. Da vida procriadora e da destruição letal. Essa dupla natureza do deus, um atributo mitológico, encontrou expressão fundamental na tragédia grega.
O caminho que via do bardo homérico Demódoco à tragédia nos conduz a um de seus sucessores. Arion de Lesbos, que viveu por volta de 600a.C. na corte do tirano Periandro de Corinto. Com o apoio e a amizade esse governante amante das artes. Arion encarregou-se de orientar para a via poética os cultos à vegetação da população rural. Organizou os bodes dançarinos dos coros de sátiros para um acompanhamento mimético de seus ditirambos. Assim, ele encontrou luma forma de arte que, originada na poesia, incorporou o canto e a dança, e que duas gerações mais tarde levou, em Atenas, à tragédia e o teatro.
Psítrato, o sagaz tirano de Atenas que promoveu o comércio e as artes e foi o fundador das Panatenéias e das Grandes Dionisíacas, esforçou-se para emprestar esplendor a essas festividades públicas. Em março do ano de 534 a.C. trouxe de Içaria para Atenas o ator Téspis, e ordenou que ele participasse da Grande Dionisíaca. Téspis teve uma nova e criativa idéia que faria história. Ele se colocou à parte do coro como solista, e assim criou o papel do Hypokrites (“ respondedor” e, mais tarde, ator), que apresentava o espetáculo e se envolvia num diálogo com o condutor do coro. Essa inovação, primeiramente não mais d que um embrião dentro do rito do sacrifício, se desenvolveria mais tarde na tragédia, etimologicamente, tragos (bode) e ode (canto).
Nenhum dos presentes na Dionisíaca de 534 a.C. poderia sonhar com o alcance das implicações que este acréscimo inovador de dialogo ao rito traria para a historia da civilização e, menos ainda, o próprio Téspis. Até então, ele perambulava pela zona rural com uma pequena trupe de dançarinos e cantores e, nos festivais rurais dionisíacos, havia oferecido aos camponeses da Ática apresentações de ditirambos e danças de sátiros no estilo de Arion. Supõe-se que viajasse numa carroça de quatro rodas, o “carro de Téspis “, mas esta é apenas uma das inerradicáveis e graciosas ilusões que o uso lingüístico perpetuou . o culpado nesse caso foi Horácio, que nos conta que Téspis “levava seus poemas num carro”. Mas essa informação diz respeito somente à sua participação na Dionisíaca, e não a algo como uma carroça palco ambulante. O ritual da dança coral e do teatro era precedido por uma procissão solene, que vinha da cidade, e terminava na orquestra, dentro do recinto sagrado de Dionísio. O clímax dessa procissão era o carro festivo do deus puxado por dois sátiros, uma espécie de barca sobre rodas (carrus navalis) que carregava a imagem do deus ou, em seu lugar, um ator coroado de folhas de videira. O carro-barca recorda as aventuras marítimas do deus, pois, de acordo com o mito, Dionísio, quando criança fora depositado na praia pelas ondas do mar, dentro de uma arca. Enquanto elemento procriador que abriga o mistério primordial da vida, a água sempre foi um ingrediente importante dos cultos de qualquer povo:são testemunhas disso o culto de Osíris do antigo Egito, o Moisés bíblico e o pescador divino da dama Kagura japonesa.
O deus – ou o ator – no carro – barca senta-se dois sátiros flautistas e segura folhas de videira nas mãos, conforme os pintores de vasos do início do século VI a.C. mostraram em inúmeras variantes. Assim, sem dúvida, Téspis se apresentou na Dionisíaca de Atenas, usando uma máscara de linho com os traços de um rosto humano, vivível a distancia por destacar-se do coro de sátiros, com suas tangas felpudas e cauda de cavalo.
O local da Dionisíaca de Atenas era a encosta da colina do santuário de Dionísio, ao sul da Acrópole. Ali erguia-se o templo com a velha imagem de madeira do deus, trazida de Eleutera, um pouco mais abaixo ficava o circulo da dança , e então, num terraço plano, a orchestra. Em seu centro, sobre um pedestal baixo, erguia-se o altar sacrificial (timelê). A presença do deus tornava-se real para os espectadores; Dionísio estava ali com todos eles, centro e animador de uma cerimônia solene, religiosa, teatral. Como todas as grandes peças culturais mundo , esta começou com um sacrifício de purificação.
Duas correntes foram combinadas, dando à luz a tragédia: uma delas provém do legendário menestrel da Antiguidade remota, a outra dos ritos de fertilidade dos sátiros dançantes. De acordo com Heródoto, os coros de cantores com máscaras de bode existiam desde o século VI a.C. esses coros originalmente cantavam em homenagem ao herói Adrasto, o mui celebrado rei de Argos, e Sícion, que instigou a expedição dos Sete contra Tebas. Por razões políticas. Clístenes, tirano de Sícion desde 596 ªC. transferiu tais coros de bodes para o culto a Dioniso, o deus favorito do povo da Ásia.
Dioniso, a encarnação da embriaguez e do arrebatamento, é o espírito selvagem do contraste, a contradição extática da bem-aventurança e do horror. Ele é a fonte da sensualidade e da crueldade. Da vida procriadora e da destruição letal. Essa dupla natureza do deus, um atributo mitológico, encontrou expressão fundamental na tragédia grega.
O caminho que via do bardo homérico Demódoco à tragédia nos conduz a um de seus sucessores. Arion de Lesbos, que viveu por volta de 600a.C. na corte do tirano Periandro de Corinto. Com o apoio e a amizade esse governante amante das artes. Arion encarregou-se de orientar para a via poética os cultos à vegetação da população rural. Organizou os bodes dançarinos dos coros de sátiros para um acompanhamento mimético de seus ditirambos. Assim, ele encontrou luma forma de arte que, originada na poesia, incorporou o canto e a dança, e que duas gerações mais tarde levou, em Atenas, à tragédia e o teatro.
Psítrato, o sagaz tirano de Atenas que promoveu o comércio e as artes e foi o fundador das Panatenéias e das Grandes Dionisíacas, esforçou-se para emprestar esplendor a essas festividades públicas. Em março do ano de 534 a.C. trouxe de Içaria para Atenas o ator Téspis, e ordenou que ele participasse da Grande Dionisíaca. Téspis teve uma nova e criativa idéia que faria história. Ele se colocou à parte do coro como solista, e assim criou o papel do Hypokrites (“ respondedor” e, mais tarde, ator), que apresentava o espetáculo e se envolvia num diálogo com o condutor do coro. Essa inovação, primeiramente não mais d que um embrião dentro do rito do sacrifício, se desenvolveria mais tarde na tragédia, etimologicamente, tragos (bode) e ode (canto).
Nenhum dos presentes na Dionisíaca de 534 a.C. poderia sonhar com o alcance das implicações que este acréscimo inovador de dialogo ao rito traria para a historia da civilização e, menos ainda, o próprio Téspis. Até então, ele perambulava pela zona rural com uma pequena trupe de dançarinos e cantores e, nos festivais rurais dionisíacos, havia oferecido aos camponeses da Ática apresentações de ditirambos e danças de sátiros no estilo de Arion. Supõe-se que viajasse numa carroça de quatro rodas, o “carro de Téspis “, mas esta é apenas uma das inerradicáveis e graciosas ilusões que o uso lingüístico perpetuou . o culpado nesse caso foi Horácio, que nos conta que Téspis “levava seus poemas num carro”. Mas essa informação diz respeito somente à sua participação na Dionisíaca, e não a algo como uma carroça palco ambulante. O ritual da dança coral e do teatro era precedido por uma procissão solene, que vinha da cidade, e terminava na orquestra, dentro do recinto sagrado de Dionísio. O clímax dessa procissão era o carro festivo do deus puxado por dois sátiros, uma espécie de barca sobre rodas (carrus navalis) que carregava a imagem do deus ou, em seu lugar, um ator coroado de folhas de videira. O carro-barca recorda as aventuras marítimas do deus, pois, de acordo com o mito, Dionísio, quando criança fora depositado na praia pelas ondas do mar, dentro de uma arca. Enquanto elemento procriador que abriga o mistério primordial da vida, a água sempre foi um ingrediente importante dos cultos de qualquer povo:são testemunhas disso o culto de Osíris do antigo Egito, o Moisés bíblico e o pescador divino da dama Kagura japonesa.
O deus – ou o ator – no carro – barca senta-se dois sátiros flautistas e segura folhas de videira nas mãos, conforme os pintores de vasos do início do século VI a.C. mostraram em inúmeras variantes. Assim, sem dúvida, Téspis se apresentou na Dionisíaca de Atenas, usando uma máscara de linho com os traços de um rosto humano, vivível a distancia por destacar-se do coro de sátiros, com suas tangas felpudas e cauda de cavalo.
O local da Dionisíaca de Atenas era a encosta da colina do santuário de Dionísio, ao sul da Acrópole. Ali erguia-se o templo com a velha imagem de madeira do deus, trazida de Eleutera, um pouco mais abaixo ficava o circulo da dança , e então, num terraço plano, a orchestra. Em seu centro, sobre um pedestal baixo, erguia-se o altar sacrificial (timelê). A presença do deus tornava-se real para os espectadores; Dionísio estava ali com todos eles, centro e animador de uma cerimônia solene, religiosa, teatral. Como todas as grandes peças culturais mundo , esta começou com um sacrifício de purificação.