Embora a chama pura da tragédia grega tenha morrido rapidamente depois de Eurípides, não podemos deixar de notar que ela ressurgiu de suas cinzas em duas formas novas: brevemente, no diálogo platônico, e na comédia de costumes que enriqueceu o teatro clássico com a obra de Menandro e dos dramaturgos romanos, sobretudo Plauto e Terêncio.
Quando Platão, voltou-se para a filosofia, moldou suas investigações na forma de diálogos, tais como Eurípides poderia ter escrito. Os três diálogos socráticos são: O julgamento e apologia de Sócrates, Criton e Fédon, compostos como uma trilogia que descreve o martírio de um homem justo num mundo injusto. Sócrates, morto pelo Estado ateniense em 399 a.C. é o herói eurípidiano desta tragédia filosófica platônica.
Acusado de trair o Estado, corromper a juventude e negar a existência dos deuses, Sócrates recusa defesa abrindo mão de todo sentimentalismo, a essa altura, já bem comuns nos julgamentos atenienses. Ele se recusa a apresentar esposa e filhos para rogarem por ele. Ao invés disso, reafirma sua fé na razão. A necessidade de ensinar, para Sócrates, é um dever sagrado. O texto cresce em estatura dramática, e Sócrates também se recusa a escolher o banimento como pena. Ao ser-lhe oferecida uma oportunidade de fuga, o filósofo prefere dar testemunho de sua crença na livre investigação, aceitando a taça de cicuta prescrita pela lei ateniense. E é, assim, condenado à morte.
Sócrates, o mártir da liberdade intelectual, consegue ser, tanto conveniente, quanto incrivelmente nobre, é uma personagem dramática fascinante pela crença no próprio homem, na humanidade, até hoje.
Sua tragédia é profundamente tocante, embora dificilmente possa ser representada no teatro de qualquer forma, posto que é, basicamente, composta por digressões filosóficas socráticas e platônicas.