quarta-feira, 30 de abril de 2008

Sêneca e a decadência do teatro latino


Sêneca foi um filosofo estóico e tutor de Nero, autor dos dramas: Medéia, Fedra, As Fenícias, Tiestes, As Trôades e Hércules Furioso, peças que sobreviveram para influenciar a Renascença. Eurípides, que lançara formas novas tais como, o drama romântico e o melodrama, deu ímpeto à tragédia de Sêneca. Em compensação, de Sêneca os dramaturgos adotaram boa parte de sua técnica, inclusive a forma em cinco atos, que este dramaturgo desenvolveu baseado na de Eurípides de dividir as peças em cinco partes.
Séneca destacou-se como estilista. Numa prosa coloquial, seus trabalhos exemplificam a maneira de escrever retórica, declamatória, com frases curtas, conclusões epigramáticas e emprego de metáforas. A ironia é a arma da qual se utiliza com maestria, principalmente nas tragédias que escreveu, as únicas do gênero na literatura da antiga Roma. Versões retóricas de peças gregas, elas substituem o elemento dramático por efeitos brutais, como assassinatos em cena, espectros vingativos e discursos violentos, numa visão trágica e mais individualista da existência. A falta de sensibilidade e o caráter formal da língua latina levaram a tragédia pelos canais de recitação. Simplesmente declamadas pelos atores.
Sêneca via o estoicismo como a maior virtude. O estoicismo é uma doutrina filosófica que afirma que todo o universo é corpóreo e governado por um Logos divino e que a alma está identificada com este princípio, como parte de um todo ao qual pertence. Este logos, ou razão universal, ordena todas as coisas: tudo surge a partir dele e de acordo com ele, e graças a ele o mundo é um kosmos – harmonia, em grego.
Sêneca procurava aplicar sua filosofia. De tal modo que, apesar de rico, vivia modestamente: bebia apenas água, comia pouco, dormia sobre um colchão duro, e não via nenhuma contradição entre a sua filosofia estóica e a sua riqueza material. Dizia que o sábio não estava obrigado à pobreza, desde que o seu dinheiro tivesse sido ganho de forma honesta. No entanto, devia ser capaz de abdicar dele.
Sêneca influenciaria profundamente o pensamento de João Calvino. O primeiro livro deste foi um comentário ao De Clementia, de Sêneca. Apesar de ter sido contemporâneo de Cristo, Sêneca não fez quaisquer relatos de fenômenos milagrosos que anunciavam o desabrochar dessa poderosa nova religião: o cristianismo.
Em 41 d.C. envolveu-se num processo por causa de uma ligação com a sobrinha do imperador Cláudio, que o desterrou. No exílio, Sêneca redigiu vários de seus principais tratados filosóficos. Três, intitulados Consolationes (Consolos), expõem os ideais estóicos clássicos de renúncia aos bens materiais e busca da tranqüilidade da alma mediante o conhecimento e a contemplação.
Por influência de Agripina, sobrinha do imperador e uma das mulheres com quem este se casou, Sêneca retornou a Roma em 49. Agripina tornou-o preceptor de seu filho, o jovem Nero, e elevou-o a pretor em 50. Logo após a morte de Cláudio, 54, o escritor vingou-se com um escrito que foi considerada obra-prima das sátiras romanas, Apocolocyntosis divi Claudii (Transformação em abóbora do divino Claudius). Nessa obra, Sêneca critica o autoritarismo do imperador e narra como ele é recusado pelos deuses.
Quando Nero tornou-se imperador, Sêneca converteu-se em seu principal conselheiro e tentou orientá-lo para uma política justa e humanitária. Durante algum tempo, exerceu certa influência sobre o jovem, mas aos poucos foi forçado a adotar atitudes de complacência. Chegou mesmo a redigir uma carta ao Senado na qual justificava a execução de Agripina em 59. Foi criticado pela oposição ao tirano, de acumular riquezas incompatíveis com suas convicções estóicas. Sêneca retirou-se da vida pública em 62.
Entre seus últimos textos estão: a compilação científica Naturales quaestiones (Problemas naturais), os tratados De tranquillitate animi (Sobre a tranqüilidade da alma), De vita beata (Sobre a vida beata) e, talvez sua obra mais profunda, as Epistolae morales dirigidas a Lucilius, em que reúne conselhos estóicos e elementos epicuristas na pregação de uma fraternidade universal, mais tarde considerada próxima ao cristianismo.
Em 65, Sêneca foi acusado de participação na conspiração de Pisão, na qual o assassinato de Nero fora planejado. Sem qualquer julgamento, foi obrigado a cometer o suicídio. Na presença dos seus amigos cortou os pulsos, com o ânimo sereno defendido em sua filosofia.Lucius Annaeus Sêneca (4 a.C. - 65d.C.), conhecido como Sêneca, modelo do pensamento estóico, durante o Renascimento inspirou o ressurgimento da “tragédia” na Europa.