sábado, 9 de fevereiro de 2008

IBSEN, do auge do realismo ao epitáfio simbolista

Em O Pato Selvagem, obra de1884, Ibsen calaria os críticos mais mordazes que o acusavam de possuir um cérebro desordenado e fanático. É uma peça, de fato mais piedosa do que Brand, por exemplo, mas O Pato Selvagem é notável em sua combinação de realidade e poesia, nas palavras de John Gassner. O mundo, brincado por Helwig e seu avô que, num certo sentido, encarna toda a humanidade, quando se contenta em permitir que três ou quatro velhas árvores de Natal representem sua floresta, demonstram toda a piedade que se pode ter da vida, e é determinante na filosofia de vida do Dr. Relling, segundo a qual o homem mediano não é capaz de viver sem alimentar ilusões de vida. A peça fala do quão delicada é a percepção de que a felicidade humana passa por um fio muito tênue. Ibsen, nessa peça deixar transparecer uma perda de fé em que as pessoas possam suportar a verdade em sua inteireza.
Na peça seguinte, Rosmersohlm, o herói, Rosmer representa o clero liberal empurrado para a ação por Rebecca. Porém, ao descobrir que Rebecca, de quem recebe inspiração foi a responsável pelo suicídio de sua mulher, - por tê-lo sugerido -, o clérigo perde as forças para continuar embate com o astuto e autoconfiante reitor Kroll. Rosmer é um fracasso. A vitória cabra ao eclesiástico Mortengard, que jamais deseja mais do que aquilo que pode realizar e é capaz de viver uma vida sem ideais.
Em seguinte Ibsen escreve a Dama do Mar, em que Ellida domina o fascínio que sente por um marinheiro no momento em que seu marido lhe oferece liberdade de ação. Trata-se de uma peça que oferece uma visão básica de “liberdade com responsabilidade”. Ellida é uma mulher ociosa e dependente, quem cuida da casa é sua enteada, não tem filhos e é uma mulher inquieta, mas que sente o peso da diferença entre o sonho e o real, e acaba conquistando um pouco de liberdade em casa. Nada mais.
Por muitos, considerada sua obra-prima, Ibsen, compôs, em 1889, um drama de análise de consciências perfeito: Hedda Gabler é um cristalino exemplo de uma mulher desajustada. Tem falsos padrões de felicidade, é ególatra e inútil. Ao cria-la, Ibsen estava caminhando adiante na estrada de desilusão moderada e dando passos largos para o que de melhor se escreveu no drama realista. Cumpre lembrar que Hedda é uma pessoa tão real quanto uma vizinha, ou parente próximo. Filha de um general, pertencente à aristocracia por nascimento, é agitada por vagas aspirações que não a conduzem a lugar nenhum. Deseja conforto e segurança. Casa-se com Tesam e cobiça para ele uma posição acadêmica, sonha com uma vida gloriosa, de devaneios, mas não é capaz de aventurar-se. Não se entrega ao amor e sente-se naturalmente frustrada. A gravidez, que odeia, só faz aumentar sua sensação de frustração diante da vida.
A inveja a consome quando vê sua antiga amiga de colégio, a quem Hedda desprezava, feliz com seu trabalho, ajudando Lövborg, um antigo admirador de Hedda. Lövbrg que havia superado seus vícios e tornando-se um escritor de sucesso, acaba sendo levado por Hedda a cometer os antigos erros e cometer o suicídio. Depois, quando as conseqüências de sua ação se tornam sérias ela acaba se vendo forçada a ter uma relação humilhante com o libertino juiz Brack como preço pelo seu silêncio. Hedda não encontra alternativa senão cometer o próprio suicídio. Simbolicamente utiliza o revólver do pai, sua última lembrança aristocrática.

A partir de então, Ibsen começa a devanear. Talvez pelo temor da velhice, o medo da morte e o retorno em definitivo para a Noruega, de onde havia se afastado fazia alguns anos, o tenham levado a escrever peças mais obscuras e frágeis.
Solness, o Construtor fala da personalidade de um homem e artista que envelhece. As memórias o deprimem e está agarrado à esposa frustrada que nunca usou seu talento para “construir almas de criancinhas” depois da morte de seus pequenos filhos gêmeos. Solness se sente, de certa forma, culpado pelo incêndio que matou as crianças, por ele ter desejado o incêndio, que indiretamente foi responsável pela doença dos filhos. Teme que seu jovem assistente o suplante, sonha realizar ainda coisas grandes e ousadas e sente-se atraído por Hilda, moça jovem a quem ele gostaria poder corresponder. A catástrofe vem da tentativa suicida de Solness em subir em uma torre, ante o pedido de Hilda, mesmo tendo ele medo de altura, com vertigens acaba caindo de lá de cima, esmagando-se contra o solo.
O simbolismo de Solness, tem continuidade em O Pequeno Eyolf, depois, com John Gabriel Bokmann e Quando Nós, Mortos Despertarmos. Em 1900, Ibsen sofreu um ataque de paralisia e um ano mais tarde sofreria um segundo ataque que o privou do movimento das pernas. Logo, falharam-lhe as mãos e seis anos depois, em 1906 o velho “Viking” morreu em 23 de maio. Foi enterrado com pompas oficiais . O espírito de Ibsen pairou por sobre todo teatro ocidental e se multiplicou vertiginosamente dando frutos de igual genialidade como Tchekov, Shaw, Synge, Hauptmann, Briex e outros tantos.